segunda-feira, 26 de julho de 2010

Oficina de Jogos Matemáticos para as Equipes Parceiras

No dia 20 de Junho ocorreu na Obra Social uma oficina de Jogos Matemáticos para as Equipes Parceiras da Rede Ponte.Quem ministrou a oficina foi a professora de matemática Helena Maria em uma parceria com a ABHASD e CEDET/PMV.

Todos puderam aproveitar bastante as atividades propostas.Resolvemos problemas, deciframos quadrados mágicos e pensamos a matemática de forma muito interessante e dasafiadora. Todos que participaram da Oficina também ganharam xerox e instruções dos jogos propostos ( muitos deles com materiáis recláveis ) para multiplicar nas organizações parceiras.

Pra quem não pode comparecer, fica o texto de abertura utilizado na oficina:

É BRINCANDO QUE SE APRENDE
Rubem Alves

No meu tempo, parte da alegria de brincar estava na alegria de
construir o brinquedo. Fiz caminhõezinhos, carros de rolemã,
caleidoscópios, periscópios, aviões, canhões de bambu, corrupios,
arcos e flechas, cataventos, instrumentos musicais, um telégrafo,
telefones, um projetor de cinema com caixa de sapato e lente feita com
lâmpada cheia d’água, pernas de pau, balanços, gangorras, matracas de
caixas de fósforo, papagaios, artefatos detonadores de cabeças de paude fósforo, estilingues.

Fazendo estilingues desenvolvi as virtudes necessárias à pesquisa: só
se conseguia uma forquilha perfeita de jaboticabeira depois de longa
pesquisa. Pesquisava forquilhas - as mesmas que inspiraram Salvador
Dali - exercendo minhas funções de ´controle de qualidade´ - arte que
alguns anunciam como nova mas que existiu desde a criação do mundo:
Deus ia fazendo, testando e dizendo, alegre, que tinha ficado muito
bom. Eu ia comparando a infinidade de ganchos que se encontravam nas
jaboticabeiras com o gancho ideal, perfeito, simétrico, que existia em
minha cabeça. Pois ´controle de qualidade´ é isso: comparar o
´produto´ real com o modelo ideal. As crianças já nascem sabendo o
essencial. Na escola, esquecem.

Os grandes, morrendo de inveja mas sem coragem para brincar, brincavam
fazendo brinquedos. As mães faziam bonecas de pano, arte maravilhosa
hoje só cultivada por poucas artistas. As mães modernas são de outro
tipo, sempre muito ocupadas, correndo prá lá e prá cá, motoristas,
levando as crianças para aula de balê, aula de judô, aula de inglês,
aula de equitação, aula de computação - não lhes sobra tempo para
fazer brinquedos para os filhos. ( Será que as crianças de hoje sabem
que os brinquedos podem ser fabricados por eles?). Hoje, quando a
menina quer boneca, a mãe não faz a boneca: compra uma boneca pronta
que faz xixi, engatinha, chora, fala quando a gente aperta um botão, e
é logo esquecida no armário dos brinquedos. Pobres brinquedos prontos!
Vindo já prontos, eles nos roubam a alegria de fazê-los. Brinquedo que
se faz é arte, tem a cara da gente. Brinquedo pronto não tem a cara de
ninguém. São todos iguais. Só servem para o tráfico de inveja que move
pais e filhos, como esse tal ´bichinho virtual...´

Fiquei com vontade de fazer um sinuquinha. Naquele tempo não havia
para se comprar. Mesmo que houvesse não adiantava: a gente era pobre.
Como tudo o que vale a pena nesse mundo, a fabricação começava com um
ato intelectual: pensamento: quem deseja pensa. O pensamento nasce no
desejo. Era preciso, antes de construir o sinuquinha de verdade,
construir o sinuquinha de mentira, na cabeça. Essa é a função da
imaginação. Antes de Piaget eu já sabia os essenciais do
construtivismo: meu conhecimento começava com uma construção mental do
objeto. Diga-se, de passagem, que o homem vem praticando o
construtivismo desde o período da pedra lascada. Piaget não descobriu
nada: ele só descreveu aquilo que os homens (e mesmo alguns animais) sempre souberam.

Era preciso uma tábua larga e plana, flanela, madeiras e borracha de
pneu de bicicleta para as tabelas; as caçapas seriam feitas de meias
velhas. As bolas, de gude. Os tacos, cabos de vassoura. Preparei-me
para fabricar o objeto dos meus sonhos. Meu pai, que era viajante,
estava em casa naquele fim de semana. Ofereceu-se para me ajudar,
contra a minha vontade. Valendo-se de sua autoridade, tomou a
iniciativa. Pegou do serrote e pôs-se a serrar os cantos da tábua, no
lugar das caçapas. Meu pai operou com uma lógica simples: se um
buraquinho pequeno, que mal dá para passar uma bolinha, dá um ´x´ de
prazer a uma criança, um buraco dez vezes maior dará à criança dez
vezes mais prazer. E assim pôs-se a serrar buracos enormes nos ângulos
da tábua. Eu protestava, desesperado: ´ - Pai, não faz isso não!´
Inutilmente. Confiante no seu saber ele levou a sua lógica até as
últimas conseqüências. Fez o sinuquinha. Só que nunca joguei uma única
partida com os meus amigos. Por uma simples razão: quem começava o
jogo encaçapava todas as bolinhas. Com buracos daquele tamanho, não
tinha graça. Era fácil demais. A facilidade destruiu a alegria do
brinquedo. A alegria de um brinquedo está, precisamente, na sua
dificuldade, isto é, no desafio que ele apresenta.

Deliciei-me com uma estória do Pato Donald. O professor Pardal,
cientista, resolveu dar como presente de aniversário ao Huguinho,
Zezinho e Luizinho, brinquedos perfeitos. Fabricou uma pipa que voava
sempre, mesmo sem vento. Um pião que rodava sempre, mesmo que fosse
lançado do jeito errado. E um taco de beisebol que sempre acertava na
bola, mesmo que o jogador não estivesse olhando para ela. Mas a
alegria foi de curta duração. Que graça há em se empinar uma pipa, se
não existe a luta com o vento? Que graça há em fazer rodar um pião se
qualquer pessoa, mesmo uma que nunca tenha visto um pião, o faz rodar?
Que graça há em ter um taco que joga sozinho? Os brinquedos perfeitos
foram logo para o monte lixo e os meninos voltaram aos desafios e alegrias dos brinquedos antigos.

Todo brinquedo bom apresenta um desafio. A gente olha para ele e ele
nos convida para medir forças. Aconteceu comigo, faz pouco tempo: abri
uma gaveta e um pião que estava lá, largado, fazia tempo, me desafiou:
´ - Veja se você pode comigo!´ Foi o início de um longo processo de
medição de forças, no qual fui derrotado muitas vezes. É preciso que
haja a possibilidade de ser derrotado pelo brinquedo para que haja
desafio e alegria. A alegria vem quando a gente ganha. No brinquedo a
gente exercita o que Nietzsche denominou ´vontade de poder´.
Brinquedo é qualquer desafio que a gente aceita pelo simples prazer do
desafio - sem nenhuma utilidade. São muitos os desafios. Alguns são
desafios que têm a ver com a habilidade e a força física: salto com
vara, encaçapar a bola de sinuca; enfiar o pino do bilboquê no buraco
da bola de madeira. Outros têm a ver com nossa capacidade para
resolver problemas lógicos, como o xadrez, a dama, a quina. Já os
quebra-cabeças são desafios à nossa paciência e à nossa capacidade de reconhecer padrões.

É brincando que a gente se educa e aprende. Cada professor deve ser um
´magister ludi´¸ como no livro do Hermann Hesse. Alguns, ao ouvir
isso, me acusam de querer tornar a educação uma coisa fácil. Essas são
pessoas que nunca brincaram e não sabem o que é o brinquedo. Quem
brinca sabe que a alegria se encontra precisamente no desafio e na
dificuldade. Letras, palavras, números, formas, bichos, plantas,
objetos (ah! o fascínio dos objetos!), estrelas, rios, mares,
máquinas, ferramentas, comidas, músicas - todos são desafios que olham
para nós e nos dizem: ´Veja se você pode comigo!´ Professor bom não é
aquele que dá uma aula perfeita, explicando a matéria. Professor bom é
aquele que transforma a matéria em brinquedo e seduz o aluno a
brincar. Depois de seduzido o aluno, não há quem o segure.

Um comentário:

  1. Agradeçemos a equipe da ABASHD - CEDET pela oportunidade!!!!! Até a próxima!!

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